O terror em oito patas: A Colônia, de Ezekiel Boone
Marcelo Henrique
29.10.16

Mesmo antes de “The
Walking Dead” ganhar a indústria das HQs no começo dos anos 2000 e “Resident
Evil” estrear para PSOne no meio da década de 90, muito se falava, no âmbito da
ficção científica, sobre a chegada de uma era pré-apocalíptica não muito
distante. Já acostumados à ideia de um terrível ataque zumbi ou de uma decisiva
batalha religiosa envolvendo Deus e o Diabo, não há dúvidas de que recebemos, nos
últimos anos, inúmeras novidades que abordaram este tema e conquistaram tanto a
TV (“The Strain”, “IZombie”) como o cinema (“Constantine”, “Zumbilândia”).
Entretanto, poucas foram
as obras que decidiram inovar radicalmente, e se você, caro leitor, esteve
procurando por algo que fosse capaz de tirar o seu fôlego – e, simultaneamente,
lhe deixar todo arrepiado –, talvez esta resenha seja a resposta que tanto esperava.
Combinando ficção estrangeira com suspense e um pouquinho de romance, você
encontrará em “A Colônia”, do novato Ezekiel Boone, diversos motivos que
desconstruirão essa mesmice que há muito nos persegue e descobrirá, em uma
linguagem bem adulta, os segredos que circundam a sua trama do início ao fim.
Fique tranquilo, pois
esta resenha é livre de spoilers! Boa leitura.
Reação em cadeia
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Uma história aterrorizante sobre uma espécie adormecida há mil anos que agora voltou para reconquistar o planeta |
O que você faria se
acordasse em um dia como qualquer outro e descobrisse que, sem qualquer razão
aparente, o mundo começara a desmoronar em uma série de eventos incomunicáveis?
Esta é a pergunta que, certamente, a maioria dos personagens de “A Colônia” começou a se fazer logo que os primeiros vestígios de um caos global passaram a
ser veiculados pelos principais meios de comunicação internacionais.
Assim, e sem maiores
explicações, os EUA entram em colapso após uma bomba nuclear ser lançada pelo
governo chinês em uma pequena parte do seu próprio território. Preocupados com
a alegação de que tudo não passara de um acidente qualquer, a presidente
norte-americana e todo o restante da Casa Branca não perdem tempo e dão início
a uma apuração aprofundada acerca do ocorrido, temerosos de que uma guerra
nuclear esteja prestes a ser armada. Estados inteiros isolados em quarentena.
Até mesmo os aeroportos de todo o país tiveram seus voos cancelados a fim de se
evitar um problema maior.
Enquanto isso, no
restante do planeta, uma espécie adormecida há milênios desperta de um sono interminável
e, com uma sede insaciável de sangue, passa a devorar tudo aquilo que esteja a
sua frente. Farfalhando pelo chão e mergulhando para cima de suas vítimas em
uma investida mortal, cada membro do impiedoso grupo coopera entre si enquanto
toda a humanidade perde o controle de suas vidas e de tudo aquilo que, até
então, parecia inatingível.
Tramas paralelas e
descentralizadas
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A Casa Branca: um dos cenários centrais de "A Colônia" |
Apesar de ser
protagonizado por alguns indivíduos aqui e ali que, consequentemente, aparecem
com maior frequência e conquistam nossa afinidade de imediato (como a
professora Melanie Guyer, o chefe de gabinete da Casa Branca Manny e o policial
Mike Rich), “A Colônia” redireciona
todos os seus esforços em entreter o leitor com narrativas curtas e
intercaladas, sempre iniciadas à abertura de um novo capítulo. Variando,
geralmente, entre 2 a 5 folhas, cada capítulo narra de maneira impessoal um
pouco sobre a vida dos personagens, ambientando-se nas mais remotas (e
inesperadas) regiões de todo o planeta: você conhecerá um pouquinho mais sobre a
Índia e será quase que instantaneamente teletransportado para o Peru, Escócia e
diversos estados norte-americanos como Minnesota, Califórnia, Maryland e
Washington.
Trazendo um pouquinho de
História e fazendo uma breve citação honrosa às Linhas de Nazca (localizadas ao
sul do Peru), o autor vai longe ao incorporar explanações sobre Biologia,
tecnologia e até mesmo a política dos EUA (não é à toa que a Casa Branca é um
dos cenários mais recorrentes de toda a trama). Diversidade é, sem sombra de
dúvidas, um dos pontos altos ministrados por Ezekiel Boone.
Público alvo e pequenos
tropeços
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Desesperador: essa é a palavra que melhor define diversos momentos movidos à muita tensão psicológica |
Por vezes deixando a sensibilidade para segundo plano, é de se notar que alguns comentários estereotipados (seja pendendo para a misoginia, seja para a homofobia) poderão causar certo desconforto ao leitor desavisado – e isso porque nem mencionamos as muitas piadinhas sexuais ou as persistentes comparações nonsense. Não que Ezekiel seja incompetente como escritor, já que a trama principal se desenvolve muito bem e prende a atenção instantaneamente; mas, em dados momentos a “conversa de bar” torna-se cansativa e os “cacetes” infinitos refletem uma possível falta de preparação com o público mais jovem.
Assim, e desde logo,
recomendamos que “A Colônia” seja lida apenas por maiores de 16 anos, okay?
Um pouco mais sobre o
autor
Nascido no Canadá, Boone
mora ao norte de Nova Iorque com a esposa, os filhos e dois cachorros. Apesar
de “A Colônia” ser o seu livro de
estreia, foi revelado recentemente que este é apenas o primeiro volume de uma futura
trilogia, sendo que o sucessor (“Skitter”)
já possui data de lançamento prevista para maio de 2017 (isso nos EUA, é claro
– a estreia no Brasil permanece indefinida). Para mais detalhes sobre o
trabalho e vida de Ezekiel, não deixe de acompanhar o autor em seu site oficial e perfis no Facebook,
Twitter
e Instagram.
Um caminho promissor
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Geóglifo de aranha localizado nas Linhas de Nazca (Peru) |
Explorando o melhor de
sua criatividade e tentando ser o mais bem-humorado possível, Ezekiel Boone tem
uma mão e tanto para o suspense: um dom que, provavelmente, deverá ser
aprimorado consideravelmente nas próximas sequências. Deixando diversas
interrogações que certamente serão solucionadas no volume sucessor, o livro
marca bem a estreia de um romancista que tem tudo para nos entregar inúmeras
obras tão boas quanto à aqui destacada – portanto, não fique frustrado caso suas
dúvidas não sejam respondidas, já que muita água ainda deverá rolar.
Só esperamos que o senhor
Boone não perca esse ritmo tão prazeroso e continue nos oportunizando a
maravilhosa chance de conhecer o que há por trás de sua mente tão versátil,
visionária e assustadoramente brilhante.
Sinopse oficial

Ficha técnica
Título
original: The Hatching
Autor:
Ezekiel Boone
Gênero:
ficção
Editora:
Suma de Letras/Companhia das Letras
Lançamento:
2016
Quantidade
de páginas: 272
Tradução:
Leonardo Alves
ISBN:
978-85-5651-017-4
Esta resenha foi
totalmente patrocinada pelo Grupo
Companhia das Letras, editora fundada em 1986 que divide o seu trabalho
entre a administração, tradução, preparação de texto, revisão, pesquisa
iconográfica, ilustração, design gráfico, vendas, divulgação e atendimento a
professores. Com foco em literatura e em ciências humanas desde a sua fundação,
estas se ramificam em: ficção brasileira, ficção estrangeira, poesia,
policiais, crítica literária, ensaios de história, ciência política,
antropologia, filosofia e psicanálise. Outras séries que também ganharam corpo
nos últimos anos foram: fotografia, gastronomia, divulgação científica,
biografias, memórias e relatos de viagem, além de outros projetos especiais.
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Créditos
Texto:
Marcelo Henrique
O
artigo apresenta as opiniões e ideias do autor do texto, e não do site Co-op
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