Resident Evil 7 é Resident Evil?
Vitor Assis
10.2.17

Em 24 de janeiro de 2017 foi
lançado Resident Evil 7: Biohazard, um novo capítulo para uma das
maiores franquias da Capcom e que já
no seu anúncio gerou discussões acirradas entre os fãs. O sétimo jogo logo se
tornou um novo divisor de águas, e mesmo que quase todos os fãs concordem que
esse seja um bom jogo, a maioria discorda de se tratar de um Resident Evil. Afinal, Resident
Evil 7 é Resident Evil?
ATENÇÃO: Esse artigo ESTÁ LIVRE DE QUALQUER SPOILER sobre a trama do jogo. Leia sem preocupações.
Silent Evil / Resident Hill

Antes de tudo, SIM, Resident
Evil 7 é Resident Evil.
Algo estranho aconteceu e devemos ir até determinado local averiguar a
situação. Encontramos uma mansão aparentemente abandonada, mas que após algum tempo
revela estar repleta de pesadelos e monstros, além de diversas armadilhas e puzzles, e estamos a todo momento
andando pelos mesmos cenários por conta do sistema leva-e-traz de itens. E aos
poucos vamos descobrindo o que aconteceu e está acontecendo naquele lugar
através de diversos arquivos espalhados pelo jogo. Essa descrição toda cabe
tanto para o primeiro Resident Evil
quanto o sétimo jogo. Precisamos continuar?
Logo que Resident
Evil 7 foi anunciado e sua demo foi lançada, muitos torceram o nariz
pelo fato da câmera ser em primeira pessoa e de termos fantasmas. A Capcom logo já veio a público explicando
que os fantasmas não estariam na versão final do jogo e que a demo servia
apenas para nos mostrar qual seria a sensação ao se jogar o novo Resident Evil. Porém isso, aliado ao
“novo” estilo de câmera, não impediu que o seguinte discurso fosse reproduzido
até hoje: “isso não passa de uma cópia de
Outlast e P.T.”
Temos que lembrar, antes de
tudo, que esses dois jogos não são pioneiros nos jogos de terror em primeira
pessoa, e se RE 7 é cópia deles por causa da câmera, o plágio para por aí. A
história não é absolutamente nada parecida com a de Outlast e muito menos com a de P.T.,
a demo do falecido Silent Hills –
essa que nem história tem (aliás, a rixa Resident
Evil vs Silent Hill já se dá há
muito tempo).
Sim, é compreensível muitos
não gostarem do estilo de câmera em primeira pessoa, mas essa não é a primeira
vez que ela aparece na série. Jogos canônicos como RE Survivor e RE Umbrella e Darkside Chronicles já a usaram, e a intenção do primeiro jogo da
franquia era ser em primeira pessoa, assim como seu influenciador Sweet Home, mas não havia recursos
suficientes para que o jogo fosse feito dessa maneira na época. A Capcom diz que RE 7 foi feito como first person para uma maior imersão no
terror, o que não deixa de ser verdade, principalmente com o PlayStation VR, mas também é um método
de marketing, já que jogos assim têm feito muito sucesso: Amnesia, Outlast, P.T., e Alien Isolation são alguns deles.
Não temos os personagens clássicos

Outra reclamação é a falta
dos personagens clássicos. Mas por que ter os personagens clássicos? Resident
Evil 7 sai do foco do bioterrorismo global para algo mais local e
isolado. Personagens como Chris, Jill, Leon e Ada já praticamente possuem uma
aura protetora contra armas biológicas por conta de tudo o que passaram com o
decorrer dos jogos, inseri-los em RE 7 tiraria grande parte da
sensação do desconhecido e do medo. Além de que a série não se resume apenas a
esses personagens.
O sétimo jogo inicia um novo
arco na franquia com novos personagens, mas não necessariamente todos eles
estejam aparecendo pela primeira vez. Em Lost
In Nightmares, a DLC de Resident Evil
5, em um caderno de Lord Spencer o nome “Ethan W.” é citado como membro da
Umbrella e que aparentemente morreu com o incidente de Raccoon City. O nome do
nosso protagonista de RE 7 se chama Ethan Winters. Coincidência?
Talvez, mas não podemos esquecer que na mesma DLC o nome de Alex Wesker é
citado, e então tivemos Resident Evil:
Revelations 2, e no primeiro jogo da série o nome de Ada Wong também é
citado em um arquivo. E alguns personagens do passado da franquia, mesmo não
sendo clássicos, têm seus nomes em alguns files
do novo jogo, como Clive O’Brien (Revelations)
e Alyssa Ashcroft (Outbreak) – e ainda
temos aquele final bem misterioso.
Outros personagens que estão
fazendo falta para alguns fãs são os zumbis. Essa reclamação já é velha (desde Resident Evil 4), e mesmo sendo
compreensível – já que esses monstros de certa forma eram o carro-chefe da
série, estando presente em todos os primeiros jogos e sendo os inimigos comuns –,
Resident Evil não é um jogo de
zumbis, e sim de armas biológicas, as famosas B.O.W.s. Os zumbis são as únicas
B.O.W.s que não foram criadas intencionalmente na série, elas foram um acidente
(com exceção de RE 6). Viver de
acidentes para que os zumbis fossem trazidos constantemente tornaria os jogos
muito parecidos e repetitivos, a série precisa se inovar para não cair no
esquecimento.
Mas de fato Resident
Evil 7 apresenta uma variação muito baixa de inimigos, e mesmo que
possa incomodar, há explicações lógicas dentro do enredo para isso. E pouca
variedade não significa que o jogo seja mais fácil.
Deveria ser um spin-off

O novo jogo não possui ligações
com o passado da franquia. Até que as cenas finais sejam explicadas, através da
DLC Not A Hero ou algum jogo futuro,
essa afirmação se torna verdadeira, tendo apenas referências em arquivos ou
quadros espalhados pela mansão, mas isso não faz dele menos Resident Evil. Levando em conta apenas
os numerados, tanto Resident Evil 4 quanto
Resident Evil 6 possuem poucas ligações
com o passado (RE 4 mais ainda). Eles
iniciam novas tramas com suas próprias reviravoltas e finais, e a maior parte
que faz a ligação com jogos anteriores são os personagens, e é apenas isso o
que RE
7 não faz, criando seus próprios.
Além disso, não há um grande
gancho deixado nos outros jogos para que o 7 pudesse se basear – com exceção
talvez de Revelations 2, mas que provavelmente
a Capcom irá explorá-lo numa possível
continuação da subsérie Revelations –.
Existem sim algumas pontas soltas em alguns jogos, e nada impede que a Capcom se aproveite delas no futuro, ou
as esqueça completamente. Resident Evil 7, como dito antes, iniciou
um novo arco assim como o 4 e o 6, deixando com maestria um gancho
enorme no final.
Talvez quem estivesse o jogando
pela primeira vez, ou quem ainda não terminou o jogo, estivesse preocupado com
a ausência daquela sensação de tudo se tratar de bioterrorismo. Essa
preocupação é válida, já que tudo só é explicado perto do fim do jogo. Então
sim, Resident Evil ainda não saiu de
sua base inicial.
Resident Evil morreu!

Mas se há um motivo maior
pelo qual Resident Evil 7 é Resident
Evil, é porque a Capcom quis. A detentora e
criadora da série decide o que entra para a história da franquia. O 4, o primeiro divisor de águas da série,
é Resident Evil. O famigerado e
criticado 6 é Resident Evil. Os esquecíveis Operation
Raccoon City e Umbrella Corps
continuam sendo Resident Evil. Por
que com o 7, um jogo que se passa numa mansão infestada de monstros,
seria diferente?
RE 7 nos
traz de diversos modos a sensação de estar jogando o primeiro RE ao mesmo tempo que ele se mostra um
jogo completamente novo. É perceptível que a maioria das pessoas que o criticam
apenas viram gameplays pelo Youtube, seja
por falta de dinheiro para comprá-lo (ele realmente está caro) ou por falta de
vontade de ter o jogo em mãos, mas é certo que jogá-lo é uma experiência
infinitamente mais imersiva.
O futuro da franquia agora é
incerto. Não sabemos se os próximos jogos serão feitos nos moldes do sétimo e
que rumo a história irá tomar a partir daquele final, e ainda temos Resident Evil 2 Remake por vir. Resident
Evil 7: Biohazard pode não agradar a todos, ele não está livre disso nem
Jesus agradou, mas não é porque alguém ficou descontente com o mesmo que
ele deixe de ser um verdadeiro Resident
Evil.
Créditos
Texto: Vitor Assis
O artigo apresenta as opiniões e ideias do autor do texto e não do site Co-op Geeks.
Texto: Vitor Assis
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