Death Note pela Netflix
Bruno Bolner
3.9.17

Netflix anunciou a adaptação de Death Note e o público ficou
na expectativa, afinal, o mangá é um clássico e possui uma enorme legião de
fãs, conquistados, também, pelo ótimo anime. Além disso, possui outras
adaptações japonesas para o cinema, que retrataram a história de forma mais parecida
com a obra original. Com um legado grande de fãs e uma longa jornada, era
normal o alto hype em cima do filme da Netlfix, e a decepção foi quase unânime
quando o filme chegou à plataforma.
O que mais incomodou foi perder o que o mangá e o anime já
haviam mostrado. O suspense psicológico e as mentes brilhantes de L e Light
para resolver os enigmas que os envolviam, se perdem para uma trama que tenta,
sem sucesso, ser um besteirol americano e um thriller psicológico ao mesmo
tempo. Na primeira aparição de Ryuk para o Light já é perceptível o que estaria
por vir: uma adaptação que não agradaria.
As mudanças no roteiro, tal como a mudança das etnias dos
personagens, ou mesmo a localização e nomes de personagens, são aceitáveis para
que a adaptação coubesse no tempo total do filme. Até as mudanças no caderno
são bem vindas. Talvez, esses pontos tenham sido as boas coisas do longa, pois
foram alterações compreensíveis para que as coisas se encaixassem. O que não se
esperava era que haveriam tantas mudanças e o envolvimento no drama seria tão
cru.

O formato do longa é parecido com o apresentado em seriados,
com cenas curtíssimas e muitos cortes, mas, por se ter menos tempo para contar
uma história, acabou por prejudicar na construção de personagens e na
construção do clima. Momentos que deveriam ser mais sérios acabam se perdendo
com tantas interrupções. A própria trilha sonora não ajuda nessas construções,
fazendo com que as coisas fiquem muito superficiais, não convencendo que o
filme é realmente sobre Death Note.
O casting de atores não é dos melhores, mas todos se saem
bem em suas atuações, fazendo o melhor que podem com o que tinham para suas
personagens. Nat Wolff é um bom Light, sem sua mente brilhante, é claro, mas
consegue se superar em alguns momentos. Assim como o L de Lakeith Stanfield
consegue trazer o detetive da melhor forma possível, sendo um cara caricato e
estranho do começo ao fim. Talvez os exageros tenham prejudicado um pouco a
empatia pelos personagens, mas o grande problema aqui é a forma rasa com que
eles foram tratados. O destaque das caracterizações fica para o Ryuk, que,
apesar de ter se tornado uma espécie de ditador neste longa, teve muito de sua originalidade
visual preservada.

As reviravoltas do filme funcionam para quem não conhece o original, deixando os que “já são de casa” entediados na maior parte do tempo. O drama que envolve Kira, L e Light são tão superficiais que deixam os telespectadores frustrados pela adaptação não ter uma identidade digna de Death Note. Tampouco, as questões sociais levantadas, passam desapercebidas que nem cabem na discussão.
O resultado disso é uma adaptação que é, ao mesmo tempo, qualquer outra coisa que tem elementos de Death Note, sem nenhuma originalidade, identidade e profundidade no drama e suspense psicológico aos quais os protagonistas são explorados no mangá original.
Créditos
Texto e revisão: Bruno BolnerO texto apresenta a opinião do autor e não do site Co-op Geeks.