Sense 8 – Mais que uma série, uma lição sobre empatia
Angelo Prata
24.6.18

Ação, aventura, drama e
personagens carismáticos. Essa é uma receita infalível para uma série de
sucesso. Sem deixar de lado, claro, uma boa história para contar. Foram essas
características que fizeram Sense8 se tornar um dos seriados mais queridos pelo
público. Tanto que mesmo a produção sendo extremamente desafiadora, mostrou um
grau de qualidade e preocupação com detalhes visto em poucos programas do
gênero.
Criado por Lana e Lili Wachowski
(Matrix), Sense8 acompanha oito personagens, em diferentes lugares do mundo,
que descobrem que suas mentes estão de alguma forma conectadas. Eles conseguem compartilhar
emoções, conhecimentos e habilidades – sejam elas boas ou ruins – para fugir de uma corporação maligna que caça esses seres especiais. Cada um deles, está
em uma parte do mundo, com suas profissões, cotidiano e dramas individuais. Graças
à essa pluralidade de protagonistas, as criadoras de Matrix deram um show de
diversidade.
Em junho de 2015, fomos
apresentados ao grupo composto por Nomi Marks (Jamie Clayton), Wolfgang (Max
Riemelt), Lito Rodriguez (Miguel Ángel Silvestre), Will Gorski (Brian J.
Smith), Sun (Bae Donna), Kala Dandekar (Tina Desai), Riley (Tuppence Middleton)
e Capheus (Ami Ameen na primeira temporada e Toby Onwumere na segunda). Os
trailers e comerciais da série mostravam o que parecia ser mais um blockbuster
televisivo de ação, mas ao assistir o delicado e profundo roteiro das irmãs Wachowski,
podemos perceber que era muito mais do que isso.
Sentimentos à flor da pele

Seu primeiro ano foi aplaudido
pela crítica e pelo público, mas o que mais chamou a atenção dos que não faziam
ideia sobre o que se tratava o programa foram as cenas picantes (episódio seis,
estou falando de você). E foi nesse mix de ficção científica com ação
desenfreada, que os espectadores se apaixonaram por oito personagens fictícios,
que possuem muito em comum com as nossas vidas reais.
É claro que não estou falando das
habilidades de luta ou poderes sobre humanos. Mas sim, sobre o drama de uma
mulher trans que não consegue a aprovação dos pais, um gay que precisa esconder
sua sexualidade do mundo para conseguir respeito ou um jovem que vive em
condições precárias tendo que ajudar a mãe doente. Todas essas histórias
entrelaçadas e compartilhadas entre os protagonistas, causou o principal
sentimento de todo o seriado: empatia.
Em um momento que o mundo parece
estar cada vez mais acostumado em segregar quem é diferente, as roteiristas e
diretoras de um dos filmes mais aclamados do cinema nos entregam esse incrível
presente. Ao assistir, foi difícil não lembrar das brigas com os amigos e parentes,
ou das pessoas que eu escolhi julgar e fazer piadas para diminuí-las. Me
perguntei em diversos momentos: “E se eu pudesse sentir a dor que causei nessas
pessoas?”. Essa é a principal mensagem de Sense8.
Não se trata dos carros explodindo,
dos tiros ou das acrobacias. O ponto é refletir como tratamos as
outras pessoas e a mágoa que podemos causar durante toda nossa vida. A famosa
frase “ponha-se no lugar do outro” nunca fez tanto sentido. Infelizmente, no
mundo real, nós não temos essa habilidade de compartilhar emoções com tanta
facilidade. O que é uma pena.
Mas nem tudo está perdido. É possível
sim se tornar um “homo sensorium”. Basta refletir mais sobre como tratamos os
outros, ponha-se no lugar das pessoas que magoa ou que te magoaram, tenha
EMPATIA. Tenho certeza que, desta forma, conseguiremos melhorar pelo menos o
ambiente que vivemos e as pessoas que sempre estão ao nosso redor.
Representatividade ameaçada

Renovada para uma segunda
temporada, que demorou dois anos para ficar pronta, a produção passou por maus
bocados. Começando pela saída de Lilly Wachowski do grupo de roteiristas e
produtores. Depois, o ator Ami Ameen (Capheus) também abandonou o projeto. Os
fãs suspeitam que foi um caso de transfobia por parte dele, mas nada foi
confirmado. Para quem não sabe, além da atriz Jamie Clayton, Lilly e Lana
também são mulheres trans.
Outro problema foi a questão
orçamentária, viajar ao redor do mundo levando toda a equipe de atores, encontrar
locações, equipe e efeitos especiais não era nada barato. Para se ter uma
ideia, o piloto de Sense8 foi mais caro que o de Game of Thrones. Para manter
um projeto tão grandioso é necessário uma audiência equivalente, o que o não
era o caso. A série foi um sucesso estrondoso no Brasil, mas nos Estados Unidos
– e em outros países – não causou tanto alarde.
Por esse motivo, em junho de
2017, um mês após a estreia da segunda temporada, Sense8 foi cancelada. Os fãs
ficaram insanos! O último episódio deixava uma enorme ponta solta na história,
causando uma comoção geral. Girl Boss, The Get Down e Gypsy, foram algumas das
outras vítimas do serviço de streaming. A internet brasileira foi às ruas (mais
conhecida como Twitter) e começaram as campanhas para renovação do seriado.
Não foi fácil, a Netflix chegou a
divulgar uma nota oficial explicando que entendia a preocupação dos fãs, mas não
iria fazer uma temporada inteira. Porém, Sense8 tinha o seu fator diferencial
que o destacava dos outros programas cancelados: a importância da série para a comunidade
LGBT. Foram tantas pessoas que se viram representadas por esses personagens,
que a gigante da internet cedeu à pressão dos assinantes que ameaçavam cancelar
o serviço. Não haveriam 12 episódios, como nos anos anteriores, mas um episódio
final com duas horas de duração.
Uma despedida digna

Os nervos se acalmaram e as
expectativas subiram. Agora, em junho de 2018, pudemos ver o tão aguardado
series finale, que não deixa a desejar. É perceptível que tiveram dificuldade
em comprimir tudo em apenas um único episódio, mas só de vermos os oito
desfrutando do tão aguardado desfecho foi uma sensação sem igual. Para nós,
espectadores, fica o sentimento de alegria e gratidão, por um programa que
celebra a diversidade como nenhum outro. Reforçando a reflexão sobre a maneira
de como tratamos uns aos outros.
Por mais seriados como este e mais empatia no
mundo. <3
Créditos
Texto: Angelo Prata
Revisão: Bruno Bolner
O artigo apresenta as opiniões do autor do texto e não do site Co-op Geeks.