Fate: A Saga Winx é incrivel... mente clichê e previsível - 1ª temporada (review COM SPOILERS)
Fate: A Saga Winx, a adaptação em live-action da Netflix da animação O Clube das Winx ganhou a sua primeira temporada com uma reimaginação sombria e dirigida para uma audiência mais madura, mas é claro, com os mesmos problemas de qualquer série para adolescentes e jovens adultos que tenta ser "sombrio e realista".
ATENÇÃO! Esse review terá SPOILERS de 'Fate: A Saga Winx' da Netflix. Leia com atenção.

Quando as notícias sobre uma adaptação live-action do adorado "desenho de menina" O Clube das Winx surgiu nas redes acabou atraindo uma atenção até inesperada se não fosse a recente onda nostálgica de relembrar e reexaminar cultura pop dos anos 2000.
Contudo, depois do primeiro teaser trailer e do lançamento da primeira temporada da série, os piores temores de qualquer pessoa sobre essa adaptação se tornaram verdade: Fate - A Saga Winx se leva a sério e quer ser uma versão sombria e realista do desenho original e é claro, não faz a mínima ideia de qual é o seu público-alvo.
Na tentativa de ser maduro e sombrio logo nos dez primeiros minutos do primeiro episódio temos um homem sendo perseguido e transformado em um esguicho de sangue por criaturas monstruosas, mas é claro, isso é tão exagerado que se torna vergonhoso.

No resto dos primeiros episódios da série já conhecemos todos os personagens agora batidos e requentados nos arquétipos mais manjados de seriados adolescentes. Fate mira na primeira temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina, mas cai como um avião turbulento e acerta em Riverdale.
Inclusive a semelhança e diferença entre essas três séries é um reflexo do estado de Hollywood hoje em dia, se agarrando em nostalgia e tentando vender essas versões sombrias e desnecessárias de desenhos e séries da infância. Em alguns casos, como em Sabrina, a fórmula funciona por um certo tempo com visuais e conceitos interessantes, em outras, como Riverdale, se torna uma novela mexicana sem sentido e em Fate, sequer funciona.
O cenário da escola por exemplo, é vazio e não se destaca. Não é interessante aos olhos, os figurinos não são inspirados e os efeitos de CGI são apenas funcionais em uma boa parte dos momentos.
Amigas ou Rivais?

As personagens principais, as fadas que estudam em Alfea, a escola mágica de fadas, não tem nenhum laço, por exemplo. A amizade das personagens não existe, ela acontece por conveniência e não por convivência. Elas não apenas não agem (ou se vestem) como adolescentes, como não criam vínculos e percebem que gostam da presença uma da outra, e se possível até se desgostam. E mesmo no momento emocional em que Aisha, Musa e Bloom se abraçam, onde estão as outras?
Bloom, interpretada por Abigail Cowen é uma personagem cuja grande motivação é controlar os seus poderes e achar os seus pais "reais". Porque toda pessoa adotada não deve considerar os seus pais adotivos como "reais. Se bem que o laço familiar dos pais de Bloom nessa série não é muito saudável mesmo, afinal, precisamos de drama sombrio e realista...
As outras fadas são bem apagadas ou reduzidas a clichês: Stella (Hanna Van Der Westhuysen) é a sua típica patricinha malvada, mas com um background triste que quase justifica as suas atitudes, mas não o seu relacionamento abusivo com o padrão-e-não-tão-interessante Sky (Danny Griffin).
Aisha (Precious Mustapha) é a única garota negra do grupo e a única minimamente sensata, mas também ignorada por todas.
Terra (Eliot Salt) é uma personagem mistura de Hermione Grander e Neville Longbottom, mas sendo pisada por todos.
Musa... Quem?
Além disso temos o problema do whitewashing. As personagens Flora e Musa do desenho original são latina e asiática, o que não acontece na série.
A personagem Musa, interpretada por Elisha Applebaum, não é asiática. E mesmo que a adição de representatividade de pessoas plus size seja muito interessante na série com a personagem Terra, nada no mundo impediria os produtores da série de escolherem uma atriz que fosse plus size e latina ou não-branca. E afinal, será que essa representação vale a pena quando a personagem é espezinhada, subestimada e ignorada por todos?

As únicas personagens realmente interessantes na série são a diretora Farah Dowling (Eve Best), que teve seu nome mudado de Faragonda, porque isso é muito infantil e que ainda é morta no final da temporada e a óbvia vilã da próxima temporada, Rosalinda (Lesley Sharp), que tem potencial.
Vamos admitir, alguém realmente se importa com o que está acontecendo com a Beatrix (Sadie Soverall) e porque Andreas (Ken Duken) resolveu criar essa menina aleatória em vez do próprio filho? Ou pensar sobre como Dane (Theo Graham), o personagem bissexual da série é manipulado por ela?
Mas acho que podemos tirar uma lição de Fate - A Saga Winx e uma que já notamos faz tempo: o tipo de série com o público-alvo adolescente e jovem adulto nunca é levado a sério e a maioria dos roteiristas não se dá ao trabalho de criar personagens interessantes e consistentes ao longo de várias temporadas.
O desenho original de Clube das Winx, como várias mídias dos anos 2000, tem influência do gênero de guerreiras mágicas japonês, estética futurista, e, é claro, em histórias de mundos e escolas mágicas. Existe material e potencial para criar algo interessante para o público-alvo e não ter medo de "parecer brega" com cenas de transformações, glitter, asas e batalhas mágicas.
Mas a série evita tudo isso tentando puxar a histórias para clichês, cenas de sexo e dramas "sombrios" apenas para serem "sombrios".
É quase como se os roteiristas tivessem vergonha do material base que usaram para criar a série. Coisa que não acontece quando os produtos ou desenhos "para garotos" ganham uma adaptação em live-action. Você pode ter trocentas temporadas americanizadas de Power Rangers, filmes de Transformers ou sequências de golpes de Cavaleiros do Zodíaco, mas um "desenho de menina" precisa ser sombrio para ser levado a sério.

E, é claro, com quase nenhuma asinha de fada...
Créditos
Texto: Felipe Lima
Revisão: Felipe Lima